Alô?
Tenho experimentado a moda de maneiras um pouco diferentes nos últimos tempos. Com essa brecha nas temporadas de desfiles - as fotos do NYFW não estão no FFW ainda - minha relação com a indumentária fica mais ligada ao zapping pelos e-commerces da internê, aos blogs do mundo todo e a experiência de consumo de uma compradora muito da enjoada: sou daquelas capazes de entrar numa loja, provar a coleção inteira e levar uma peça só, ou nenhuma, por uma série de motivos perfeitamente justificáveis.
O que acontece é que essa semana, procurando alguns modelos legais de vestidos para levar na costureira, eu, que sou feliz portadora de uma comissão de frente tamanho 48B podendo, portanto, ser reconhecida como uma mulher de peito, me deparei fazendo a seguinte pergunta: Produção, aonde é que foram parar os decotes?
É impressionante como o varejo no Brasil - inclusive a moda carioca (!!!) - parece ter voltado toda sua concepção de coleção para uma modelagem que quando não denigre, simplesmente esconde o busto feminino. Também tenho notado a mesmíssima linha de pensamento tem sido seguida para além-mar, não apenas no ready-to-wear, mas também na alta costura. Coleções de maisons como a Givenchy, conhecidas por suas peças dotadas de decotes bafônicos, apresentaram coleções para o próximo inverno do hemisfério norte completamente fechadinhas e comportadas.
Há de ser o tal do Zeitgeist: Em tempos de extrema exposição a que as pessoas são submetidas ou submetem-se por vontade própria diariamente, como é o caso das redes sociais, o advento dos tais reality shows, e a guerra entre artistas (formadores de opinião) e os paparazzis, nada mais natural do que essa vontade coletiva - ainda inconsciente - de guardar-se, embalar-se, embrulhar-se. É importante chamar a atenção para a preciosidade dos materiais e para a alta dos brocados.Além disto há a valorização de uma forma feminina cada vez mais sequinha: peitinho e pernas esguias são a bola vez para a moda all around the world, totalmente na contra mão da evolução do biotipo da população mundial. É a vitória do look hotpants + camiseta do boy, definitivamente.
Como consumidora, me incomoda que as coleções de verão de um país como o nosso, que ali para Outubro começa a honrar o titulo de "tropical", invista em uma modelagem nada versátil em termos de corte e caimento. Ainda mais no Brasil, onde - drama do plus size à parte - a mulher é naturalmente maior e mais curvilínea e as tais curvas ocorrem de formas completamente diferentes: peitinho, quadrilzão; peitão, cinturinha, quadrilzão; peitinho, tronco largo, quadrilzinho e por aí vai. Continuar fazendo roupa apenas para a galera da genética recessiva - a.k.a modelo de prova da FARM, que é linda, mas vamos combinar né, minha gente, quantos % da população brasileira tem aquele shape?? - e seguindo a mesma linha de pensamento da moda feita no exterior definitivamente não vai nem vender mais roupa, porque não atende a demanda, muito menos exporta a identidade brasileira para o exterior.
O país é um Brasil de mulheres lindas e sensuais, independente do tamanho. Eu quero meu decote de volta sem atravessar a linha tênue entre a sensualidade e o esteriótipo da "piriguete". Por uma comissão de frente livre para o verão! Pode ser ou tá difícil?
Concordo plenamente... somos brasileiras, com muito orgulho! Estilo e atitude! Sua ex-professora de L.P. a cumprimenta pelo texto bem escrito!