terça-feira, 25 de setembro de 2012

50 Tons de Polêmica e Preconceito

Sinceramente, não compreendo o drama e a comoção negativa e ultra feminista em torno da trilogia Fifty Shades of Grey. O que há de tão absurdo, abusivo, violento e machista pra que o livro seja tão achincalhado pelos intelectuais, se, paralelamente, é um sucesso de vendas inegável?


Deixa ver.

Universitária recém-formada se apaixona por empresário bem sucedido e bonitão. NOSSA QUE SURREAL, NÃO É?! Acontece todos os dias com meio mundo por aí. Afinal de contas o poder atrai (e eu podia citar vários filósofos pra corroborar isto), homem de terno é a coisa mais elegante do mundo, e que atire a primeira pedra a garota que nunca teve um fraco por um superior qualquer da firma. Oi? É, não vejo ninguém.

O cara, além de bonitão é inteligente, bem sucedido, gosta de arte e tem gosto refinadíssimo para tudo. BAAAAM! Nós mulheres queremos mesmo um cara que não consegue atingir UMA meta na vida, que passa o dia no sofá assistindo Two and A Half Man e se veste que nem um jacu. AHAM. SENTEM LÁ, FEMINISTAS.

A menina é virgem aos 21 anos. MEU DEUS QUE ABSUUUURDO SEM FIM, NÃO É!? Bonita, inteligente, recém-formada e VIRGEM? Isso é um disparate social, não existe! Olha, eu não sei em que mundo vocês vivem, mas aqui no meu mundo, a.k.a Planeta Terra, Brasil, São Paulo, eu conheço pelo menos TRÊS meninas na mesma situação: bonitas, inteligentes, espertas, recém formadas e VIRGENS. Perfeitamente factível, portanto.

O cara é meio misterioso e introspectivo, deve ter tido um passado difícil, mas mesmo assim tem uma personalidade e um modus operandi atraente. OUTRO ABSURDO, PORQUE HOMEM BEM RESOLVIDO É O QUE A GENTE MAIS ENCONTRA NA RUA, NÉ, TÁ CHEIO!!! Só que não.

Então recaptulando rapidinho: recém-formada, virgem – provavelmente por fazer um huge deal em torno do tão debatido hímen, o que é recorrente mesmo no séc. XXI – vai entrevistar boy magia bem sucedido de terno e gravata e se interessa pelo papo e pelo jeitão não-deixe-sua-filha-perto-de-mim-porque-eu-sou-foda. NOSSA QUE COISA MAIS SEM PÉ NEM CABEÇA, NÃO É?
Não é clichê porque é SURREAL, é clichê PORQUE ACONTECE TODOS OS DIAS!

Aí o cidadão é adepto da comunidade BDSM e se identifica com o papel de Dominant. Quando ele te conta isso você acha tudo supernatural, certo? É, não. Quando um antigo parceiro me contou que sua primeira memória sexual continha “uma moça nua pendurada por uns cabos, de ponta-cabeça em um galpão”, a minha primeira reação foi levantar da cama, vestir a calcinha e iniciar uma enxurrada de perguntas.

Depois deste início, o que vem a seguir é a descrição de um início de relacionamento inserido no contexto BDSM, que pouquíssima gente conhece, em que o Dominant é “velho de guerra” e a candidata a Sub é completamente leiga. Logo, é a história de um casal tentando adaptar o relacionamento a uma forma diferente de viver a sexualidade – o BDSM – de acordo com a realidade e os limites de cada um.

Não consigo enxergar onde é que está o elemento machista e abusivo do livro. Se Anastacia fosse uma Dominatrix ao invés de submissa, o livro seria considerado feminista? Oi? 

E outra coisa, relação abusiva não tem porra nenhuma NADA a ver com BDSM! Relação abusiva é aquela em que uma Parte denigre a outra (física ou psicologicamente) com a finalidade de obter controle sobre o outro através do MEDO. Em uma relação abusiva não há consenso!!! O alvo do abuso apenas “compactua” silenciosamente porque há uma fusão emocional dos conceitos de medo e amor. Pessoas que se encontram neste tipo de relação precisam de ajuda de um terapeuta e do apoio da família para egressar de um ciclo vicioso e este é um processo de desenvolvimento pessoal lento e doloroso. Portanto, dizer que BDSM é abusivo é PRECONCEITO e falta de informação.

O que há ali é uma relação D/S, cuja a proposta é que haja uma troca erótica de poder que pode ou não envolver dor, submissão e jogos psicológicos. Sim, são condutas que fora do contexto erótico podem ser consideradas desagradáveis, mas no contexto BDSM, elas só ocorrem caso haja consentimento mútuo entre as Partes – e quem leu o livro ou qualquer resenha que esteja rolando aí pela blogosfera, sabe que há a discussão de um contrato não judicial, mas um acordo entre Anastacia e Mr. Grey, que só será assinado quando os limites ne expectativas de cada um são discutidos a exaustão. O intuito deste tipo de relação é que o prazer de ambos seja garantido.  Então, não, BDSM NÃO É ABUSIVO. Aliás, a comunidade BDSM se apoia sobre a ideia de que todas as práticas devem ser SÃS, SEGURAS E CONSENSUAIS. No caso dos personagens, a relação D/S se dá num contexto 24/7, e é por isso que Mr. Grey define o que Anastacia veste ou come, a que horas ela dorme e quando se exercita.É importante frisar que, apesar de nem todas as relações D/S envolverem sentimentos, alguns casais que passam a se relacionar neste contexto desenvolvem laços muitíssimo fortes de respeito e confiança.


Ah, mas porque do sucesso e da montanha de críticas?

Porque o referencial de relacionamento amoroso adotado pela sociedade, historicamente, é a Monogamia. E a relação D/S que Anastacia mantém com o Mr. Grey é monogâmico em todos os seus céus e infernos. A monogamia, o Complexo de Cinderela e todo o bla bla bla que envolve a ideia de romance (e o contrato social embutido nesta ideia) formam o referencial da sociedade. PORTANTO, A MONOGAMIA VENDE, PESSOAL.  Não importa se você rompeu com este modelo e ele não faz mais parte da sua vida. Não importa se você acredita que a monogamia só é bem sucedida dentro de um contexto específico. Não importa se você acredita piamente no modelo monogâmico. A MONOGAMIA VENDE, e se isso te deixa fulo da vida é problema seu.

Em tempos em que são incessantemente discutidos conceitos como o de Emancipação Masculina, a Desconstrução do Gênero, a 2ª Revolução Sexual, e o Neo Feminismo, é lamentável que haja uma interpretação tão pobre, desinformada e preconceituosa de um livro que não é nenhuma obra de arte literária, mas que expressa, sim, o espírito de um tempo.

Um tempo em que as pessoas buscam dentro do que lhes convém e de acordo com suas respectivas bagagens, novas formas de se relacionar – principalmente se incluir a possibilidade de não negar o referencial monogâmico – de compreender e expressar a própria sexualidade. Um tempo em que as mulheres enfrentam o desafio de conviver com a emancipação tardia do sexo oposto, um tempo que o gênero masculino entra em processo de revisão. Para entender Fifty Shades of Grey e não dizer barbaridades por aí, é preciso compreender o mundo em que se vive, é preciso respeitar e aceitar a diversidade e mais do que tudo é preciso ser capaz de se despir do preconceito e do extremismo, seja lá qual for a tua visão de mundo.

A polêmica é legal. Mas a polêmica por si só é enfadonha e burra.  


PS: Se o livro te deixou interessada (o), leia bastante a respeito do assunto, entenda que tudo é completamente adaptável e tenha em mente que quando mais desejo, respeito e confiança houver entre o casal, mais prazerosos serão as práticas de qualquer conduta ou a realização de qualquer fetiche.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

A Monogamia e Menina Má


Recentemente, sentada no divã da minha querida terapeuta, me ocorreu questioná-la sobre qual o assunto de maior recorrência em todos esses anos de prática da psicanálise. A resposta veio certeira e cortante: A SOLIDÃO.  
As pessoas estão sozinhas, e a solidão não escolhe gênero, nem classe social, ou profissão, ou escolaridade. Não quer saber se você é linda e magra ou se está preocupadinha com os quilinhos a mais que enxerga no espelho e aquela calça 40 que não quer entrar, nem se você deitar na cama e murchar a barriga.

A Solidão das Massas - Claudia Rogge
Quando Mario Vargas Llosa escreveu “As Travessuras da Menina Má”, a meu ver, não falava a respeito do amor. A “Menina Má” do Mário é a tal da Solidão, que está aí e não está nem aí pra você.
Homens e mulheres andam cada vez mais sós, ainda que acompanhados. Quantas vezes você já ouviu alguém dizer – ou se pegou dizendo – que apesar de ser bonitinha (o), inteligente e easygoing, não encontra ninguém pra chamar de seu? Ou que os relacionamentos se tornaram cada vez mais efêmeros e superficiais?
O problema é que o mundo se amarrou a paradigmas de outros tempos, que não se encaixam nos rumos que a humanidade tomou para si. A sociedade patriarcal caiu por terra: o conceito de família é cada vez mais diverso e maleável. O anticoncepcional, a beat generation e a minissaia se encarregaram de trazer à tona o grito de uma geração por uma liberdade que os permitisse reformular os valores da sociedade e talvez deixa-los mais de acordo com as mudanças que se apresentavam no horizonte dessa nova estrada. As mulheres queimaram os sutiãs, abraçando para sempre a autoridade sobre seus próprios destinos.
E ainda assim, depois de tudo isso, HOJE, que a informação atravessa o mundo em questão de segundos, o que é que a gente faz? Se agarra nas expectativas dos outros (e o inferno são eles), desce o verbo na gatinha (ou na fofinha) que posta foto no Lingerie Day “porque quer  mostrar que é gostosa pra todo mundo”, sofre do complexo de Cinderela e acredita que existe um príncipe encantando feito sob medida – como se fosse um sapatinho de cristal e não uma pessoa – para gente, e ainda tem a pachorra de criticar quem exerce o direito pessoal e intransferível de se relacionar com quem bem entender, durante o tempo que quiser, sem submeter-se a posse deste (a) ou daquele (a). Nunca fomos tão caretas.
Na boa, galera, Jaques Kerouac se revira no túmulo. 

A matemática do amor (ou seja lá o que você estiver sentindo) e a falência da monogamia.


Imagine que você e seus interesses formem o conjunto A e, portanto, seu conjunto está inserido em um universo, onde existem inúmeros conjuntos. Quando você se relaciona com alguém, seu relacionamento pode ser considerado uma intersecção entre dois conjuntos: você COMPARTILHA com a outra pessoa uma determinada gama de interesses.
Ora, tanto você quanto o outro são donos de outros interesses incomuns, que permanecem fora desta intersecção. Logo, é perfeitamente cabível que você crie intersecções com outros conjuntos – e mantenha, assim, interesse por diversas pessoas ao mesmo tempo. Em termos de amor, isso não implica que você ame mais esta ou aquela pessoa. São relacionamentos inteiramente diferentes e incomparáveis. Até que...
Você prova o sabor do veneno da monogamia: A POSSE.
O problema dos relacionamentos – e não é de hoje! – é que as pessoas ultrapassam os limites da intersecção entre os conjuntos, e invadem a individualidade dos companheiros sem pedir licença, como se aquilo fosse direito adquirido: você transa, bate um papo e divide algumas coisas com a pessoa, então PRONTO!, ELA É SUA e você tem direito ao monopólio do território amoroso. Tem gente que faz ALOCA e quer monopolizar o território inteiro. É aí que se deixa de COMPARTILHAR para DOMINAR. Abre-se mão da INTIMIDADE em prol da CONQUISTA. Bate-se o pé e exige-se FIDELIDADE, quando o que deveríamos construir se chama LEALDADE.
É assim que LAÇOS se transfiguram em NÓS APERTADOS. Na busca pela liberdade de se ter a si mesmo, sem a obrigação de pertencer a outrem, as partes se afastam, pois o peso da co-paixão se torna insuportável a ponto de levar a crer que o diálogo é incapaz de devolver a leveza. Os casais se tornam Tomas e Tereza – como em “A Insustentável Leveza do Ser”, de Milan Kundera – ao retornarem à Praga: de frente um para o outro em plena sala de estar que mais parece um deserto morto e coberto por neve.
A monogamia, portanto, é ponto de partida para o pior tipo de Solidão: Aquela que se instala entre duas pessoas, que se faz sentir ainda que fisicamente acompanhado, que torna perceptível o abismo entre duas almas, que torna a intersecção entre o seu conjunto e o do outro algo insignificante e nonsense.
No último ano, presenciei as torturas de um relacionamento em frangalhos, em que as partes negam a própria individualidade em prol de uma relação de interdependência. No papel de amante, tão achincalhado pela sociedade, pude perceber o quão mais cômodo era para o cara abraçar uma traição que já durava a metade do tempo do namoro com a garota do que procurar a devolução do EU através do diálogo. A o diálogo deixa de ser alternativa em função do medo de deteriorar o NÓS.
Estar no papel de “Outra” refrescou minha perspectiva do mundo, das pessoas e da Solidão. Mais do que nunca, passei a acreditar que apenas quando abraçamos a viajem de nós a nós mesmos – como já escreveu Drummond – é que se torna possível um relacionamento saudável. É só nestas circunstâncias é que nos tornamos capazes de decidir qual é a definição mais apropriada de amor, paixão, e relacionamento pra nós mesmos.
O maior erro que nós seres humanos cometemos, é, com tanta liberdade e informação em nosso poder, nos prendermos a convenções sociais, morais ou religiosas que não necessariamente vão de encontro com a nossa essência. O romantismo pode ter sido construído em cima do conceito CONTRATUAL que alicerça a idéia de monogamia, mas nós temos o direito de acreditar que não são necessários contratos para AMAR A UMA OU MAIS PESSOAS. Regulamentar o amor, a paixão e o romance, foi definitivamente o maior erro da humanidade. É tão sem sentido que parece piada.
Enquanto sairmos pela noite buscando “o que tem pra hoje”, ficarmos com “o que tem pra hoje”, namorarmos “o que tem pra hoje” e PELO AMOR DE DAS NOSSAS RESPECTIVAS PROGENITORAS!!, nos CASARMOS “com o que tem pra hoje”, apenas para enganar temporariamente a Solidão, mais a Menina Má se infiltrará em nossas vidas e nos surpreenderá com suas travessuras.
Aproveitemos todas as possibilidades, as delícias e as dores de sermos nós mesmos, de acordo com o que nos convém.
FAÇAMOS O QUE QUISERMOS, POIS É TUDO DA LEI. 


quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Pensando Moda: Onde foram parar os decotes?

Alô?
Tenho experimentado a moda de maneiras um pouco diferentes nos últimos tempos. Com essa brecha nas temporadas de desfiles - as fotos do NYFW não estão no FFW ainda - minha relação com a indumentária fica mais ligada ao zapping pelos e-commerces da internê, aos blogs do mundo todo e a experiência de consumo de uma compradora muito da enjoada: sou daquelas capazes de entrar numa loja, provar a coleção inteira e levar uma peça só, ou nenhuma, por uma série de motivos perfeitamente justificáveis.

O que acontece é que essa semana, procurando alguns modelos legais de vestidos para levar na costureira, eu, que sou feliz portadora de uma comissão de frente tamanho 48B podendo, portanto, ser reconhecida como uma mulher de peito, me deparei fazendo a seguinte pergunta: Produção, aonde é que foram parar os decotes?

É impressionante como o varejo no Brasil - inclusive a moda carioca (!!!) - parece ter voltado toda sua concepção de coleção para uma modelagem que quando não denigre, simplesmente esconde o busto feminino. Também tenho notado a mesmíssima linha de pensamento tem sido seguida para além-mar, não apenas no ready-to-wear, mas também na alta costura. Coleções de maisons como a Givenchy, conhecidas por suas peças dotadas de decotes bafônicos, apresentaram coleções para o próximo inverno do hemisfério norte completamente fechadinhas e comportadas.

Parece haver uma vontade coletiva de esconder as curvas superiores da mulherada. Mas eu aposto que EU, VOCÊ, CHRISTINA KENDRICKS AND OS BOY TUDO ainda votamos pelo nosso direito de ter peito e usar decote. Não é?
Há de ser o tal do Zeitgeist: Em tempos de extrema exposição a que as pessoas são submetidas ou submetem-se por vontade própria diariamente, como é o caso das redes sociais, o advento dos tais reality shows, e a guerra entre artistas (formadores de opinião) e os paparazzis, nada mais natural do que essa vontade coletiva - ainda inconsciente - de guardar-se, embalar-se, embrulhar-se. É importante chamar a atenção para a preciosidade dos materiais e para a alta dos brocados.Além disto há a valorização de uma forma feminina cada vez mais sequinha: peitinho e pernas esguias são a bola vez para a moda all around the world, totalmente na contra mão da evolução do biotipo da população mundial. É a vitória do look hotpants + camiseta do boy, definitivamente.

Como consumidora, me incomoda que as coleções de verão de um país como o nosso, que ali para Outubro começa a honrar o titulo de "tropical", invista em uma modelagem nada versátil em termos de corte e caimento. Ainda mais no Brasil, onde - drama do plus size à parte - a mulher é naturalmente maior e mais curvilínea e as tais curvas ocorrem de formas completamente diferentes: peitinho, quadrilzão; peitão, cinturinha, quadrilzão; peitinho, tronco largo, quadrilzinho e por aí vai. Continuar fazendo roupa apenas para a galera da genética recessiva - a.k.a modelo de prova da FARM, que é linda, mas vamos combinar né, minha gente, quantos % da população brasileira tem aquele shape?? - e seguindo a mesma linha de pensamento da moda feita no exterior definitivamente não vai nem vender mais roupa, porque não atende a demanda, muito menos exporta a identidade brasileira para o exterior.


O país é um Brasil de mulheres lindas e sensuais, independente do tamanho. Eu quero meu decote de volta sem atravessar a linha tênue entre a sensualidade e o esteriótipo da "piriguete". Por uma comissão de frente livre para o verão! Pode ser ou tá difícil?


terça-feira, 10 de julho de 2012

Afinal, moda pra quê? - Parte 2


No post anterior, falei da dualidade dos sentimentos do mundo em relação à moda, do seu caráter democrático velado por diversos mitos e preconceitos. Expliquei as mudanças que a moda sofreu no pós-guerra e chegamos à formação da sociedade de consumo. Nesta segunda parte, pretendo discutir a evolução do cosumo e da moda, da década de 70 até o final dos anos 80, com a consolidação das grifes enquanto código de riqueza, preparando o caminho que levará a uma resposta para a pergunta inicial deste post: Afinal, pessoal, moda pra quê?

Na década de 70, a moda tornou-se ainda mais diversificada, dividindo-se em duas amplas frentes: roupas clássicas e fáceis de usar e trajes de fantasia. Para o vestuário feminino, há neste período uma quebra da silhueta rígida e triangular da minissaia, substituída pelas linhas longas e esbeltas dos comprimentos midi e máxi, além da crescente dependência que a mulher criava em relação às calças. Paralelamente, a preocupação dos homens com o estilo aumentava.

Neste período, Nova York e Milão, fortificavam sua presença – construída ao longo da década anterior – no cenário mundial da moda, apesar da forte crise econômica gerada pelo aumento de 70% nopreço do petróleo em 1973, o que obrigou a indústria o ritmo. A Guerra do Vietnã chegava a seu fim, mas a violência continuava presente nos conflitos relacionados aos distúrbios raciais e protestos estudantis nos Estados Unidos e em toda a Europa. O movimento feminista tendia a ser antimoda, mas textos a favor da Libertação Feminina, como "Sexual Politics", de Kate Millet, tiveram a influência formadora sobre muitas jovens com consciência de moda e consciência social: o visual “menininha” foi substituído por um estilo mais “adulto”. À medida que a sociedade se tornava progressivamente multicultural, os estilistas também voltavam suas fontes de inspiração para conceitos de vestuário não ocidentais. Com a introdução dos Jumbos no mercado da aviação, as passagens se tornaram mais baratas e as distâncias foram diminuídas, aproximando o mundo e suas exoticidades.


Neste climão de VALE TUDO, os estilistas encontraram inspiração nos acontecimentos mais soturnos. Paralelamente, houve também uma busca (como é comum em tempos de crise) pelo vintage  das décadas de 30 e 40. Num panorama geral, a moda havia se consolidado  como uma questão de escolha pessoal, e não mais um acumulado de ditames.

A década de 80, para muita gente, caracterizou-se como um contraponto direto ao declínio econômico, distúrbios políticos e fragmentação social. Os anos 80 foram prósperos, pelo menos até meados de 1987, com a quebra do mercado de ações.

Estes dois climas muito diferentes viram a ascensão de modas igualmente distintas. O início foi marcado por certo conservadorismo, um “quê” de nostalgia, em que tudo que pertencia ao passado ou considerado “tradicional” era desejável. As decepções com o presente e a desconfiança em relação às inovações tecnológicas se refletiram em muitas coleções, que ofereciam peças que iam do clássico ao retrô: a moda podia ser considerada “segura”.

Num segundo momento, os aspectos mais negativos do período estimularam o desenvolvimento de culturas mais radicais, entre elas o PUNK, nascido em Londres, como uma manifestação de alguns grupos de jovens desempregados e estudantes – principalmente das escolas de arte da capital, reunidos em torno da famosa butique de Vivienne Westwood (sim, aquela que tem uma co-le-ção de colaborações com a Melissa, lembra?) e Malcom McLaren, na King’s Road.


A identidade punk foi formada pela estilização dos próprios punks, os modelos de Westwood e McLaren e a formação dos Sex Pistols (se você não ouviu, OUÇA!, pelo amor de Deus!). Desenvolvimentos similares se formaram na mesma época, tanto nos clubes de Nova York como na cena musical americana, entre cantores como Iggy Pop e Lou Reed. Gradualmente o movimento punk se alastrou para toda a Europa, Estados Unidos e Extremo Oriente, principalmente o Japão.

Outro aspecto importante da década de 80, o deslocamento para uma moda mais cara e ostensiva, que refletia uma época mais obsecada pelo dinheiro e com maior consciência de imagem, fez com que se tornasse chic assinalar a própria riqueza usando roupas e acessórios de grife. Assim, as grifes proliferaram. As bolsas da Louis Vuitton, as fivelas e botões grandes de Moschino e as bolsas Chanel tornaram-se acessórios tem-que-ter. Esta importância perdura até os dias de hoje, principalmente entre os jovens de classe média, como trampolim para a construção de alguma identidade, em meio a um período tão turbulento e carregado de incertezas.