segunda-feira, 9 de julho de 2012

AFINAL, MODA PRA QUÊ? - Parte 1



Resolvi escrever este texto pra todo mundo que gosta de moda buscar uma profundidade que vá além do “Look do Dia” – ainda que este tenha abalado as placas tectônicas da moda mundial, como bem colocou Mônica Salgado, editora da Glamour BR – e consiga refletir a respeito desta dualidade absurda que está liga à moda. É também (e principalmente) pra VOCÊ não gosta de moda, acha que não se identifica com ela, ou pensa que é assunto pra gente fútil e desprovida de neurônios que gosta de viver de aparências. É um incentivozinho, pra você enxergar o outro lado, em que a moda é arte, é meio de comunicação instantâneo, cartão de visitas e assim, de leve, o segundo setor que mais emprega no Brasil.

Este post terá três partes, e faz parte de uma tentativa desta blogueira que vos fala, de FAZER DIFERENTE, mas de um jeito SIMPLES e FÁCIL de ler.

Afinal, moda, pra quê?

Tá aí uma pergunta para a qual a reposta - independente do nível de elaboração - custa a convencer quase todo mundo que não é apaixonado por moda.

E por mais que a gente torça no nariz, é compreensível. Se outrora a moda era artifício inerente às habilidades de uma moça prendada (capaz de pintar e bordar, entre outras artimanhas), ou às grandes “Maisons” praticantes da alta costura, hoje ela se esconde por trás do consumo, do boom da indústria, do glamour exagerado conferido por T-O-D-A-S as mídias e principalmente pela vaidade que impulsiona o desejo (leia mais nessa entrevista babado do Flávio Gikovate pra Oficina de Estilo). E foi assim que a moda ganhou esse ar de mistério, se cercou de mitos, tornando-se um conceito que para muita gente é intangível e carregado de preconceito.  É muita gente entendida DE moda, e pouquíssima gente entendendo A moda.

A escritora Valerie Mendes - autora do livro “A Moda do Século XX” -  explica em seu prefácio que “(...) a obsolescência da moda, pela qual as roupas são descartadas antes pelo desejo de novidade estilística do que por razões utilitárias, gera reação apaixonada tanto dos consumidores quanto dos teóricos” fizeram com que a moda fosse ridicularizada, tratada como um fenômeno estético meramente frívolo –“ como está sempre mudando, não pode ter nenhum valor duradouro”.

Na contramão do descarte, a autora conta que a partir de 1900, “a moda passou a chamar a atenção de um leque cada vez maior de acadêmicos, fascinados pela sua significação multidisciplinar e interdisciplinar”. Ou seja, parte da academia passou a achar a Moda não tão frívola e sem valor.
Seus olhos então se abriram para o fato de que a moda é a expressão artística mais POPULAR  e DEMOCRÁTICA de todas, dado que todas as pessoas, sem distinção alguma e a qualquer tempo tem a NECESSIDADE de se vestir  (ninguém quer sair mostrando suas “vergonhas” por aí, não é?) e se adornar (o ser humano tem obsessão pelo conceito de BELO, então já que vai vestido que seja bonitinho, ué).



Essa tal DEMOCRACIA que a moda proporciona leva todo mundo a participar do seu processo de desenvolvimento, experimentando seus prazeres e suas dores – super conectados ao poder de compra, ao desejo de consumo, às mudanças e movimentações sócio econômicas, políticas, culturais, formação de identidade – individual ou grupal – entre outros diversos aspectos.

Esta percepção só ficou bem clara, após o encerramento da Segunda Guerra Mundial, quando a sociedade passou a se preocupar muito mais com a aparência: dá até pra dizer que esta preocupação era resultado de uma mudança de foco, já que os dias tristes de batalha, medo, insegurança e miséria haviam chegado a um fim. O foco agora era a recuperação político-econômica dos países envolvidos no conflito, das cidades destruídas, de levantar e seguir em frente. Tudo isso traduziu-se em uma necessidade de amplitude – a gente pode inclusive inserir o new look da Dior aqui, né? Quer coisa mais ampla do que aqueles saiões? –  impulsionada pela cobertura cada vez maior da imprensa, a era de ouro do cinema e o surgimento, dentro das maisons e dos museus, de um interesse por documentar a moda, como nunca antes havia acontecido.

Mas foi no período compreendido entre o final da década de 50 até a década de 70, que ocorreu o que eu gosto de chamar a Grande Revolução Fashionista. Em 1957, a Europa já se recuperava bem, com a ajuda do Plano Marshall, das carências e privações do pós guerra. Tanto nos Estados Unidos quanto na Europa, “as estatísticas registravam um mercado adolescente em crescimento, com grande rendimento disponível.” O surgimento deste público trouxe a juventude para o primeiro plano, afinal os jovens não apenas representavam uma nova fatia consumidora da população, mas passaram a ser o protagonistas de uma verdadeira revolução, iniciada com o Maio de 68, na França, passando pelos avanços do Movimento Pacifista nos Estados Unidos, a Ofensiva de Tet – responsável pelo fim da Guerra do Vietnã – e chegando à Batalha da Maria Antônia, como ficou conhecido o conflito entre estudantes da USP e do Mackenzie, em tempos de Ditadura.


A prosperidade e o ritmo frenético de mudanças, teve um impacto dramático sobre a produção e a comercialização de moda. Os jovens se dividiam em grupos, e a moda acompanhava estes passos. Havia, pela primeira vez, surgido o conceito de estilo, advindo de uma formação de identidade de grupo muito forte. Tanta agitação e novidade, fizeram com que o romantismo e o sentimento de amplitude da década de 50 dessem lugar aos tubinhos, ao grafismo, às estampas alegres e floridas e às minissaias de Mary Quant. Aliás, a capital mundial da moda se deslocou temporariamente de Paris para Londres, onde jovens estilistas faziam moda “para o jovem médio da rua e não para poucos indivíduos selecionados e ricos”. A alta costura entrou em declínio, e para não sucumbir, as grandes Casas começaram a expandir suas operações de “ready to wear” além de partir para as opções lucrativas de perfumes e maquiagens.

Neste momento, a moda presenciou o nascimento da era do descartável e do consumismo.

(continua!)

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